Observando algumas atitudes de pessoas a minha volta lembrei-me de uma lenda contada pelos antigos gregos em que um belo rapaz havia se apaixonado pela própria imagem. A primeira vez que tive contato com essa história foi no ensino fundamental, na quinta ou sexta série onde estudamos os antigos povos gregos e romanos. Confesso que não conseguia, na época, imaginar alguém se apaixonando pela própria imagem. Alguém que fosse capaz de morrer por si mesmo! Morrer de autocontemplação!
Era uma lenda absurda para a cabeça de uma criança, afinal, quem, nos dias atuais, acredita na perfeição de si mesmo. Pois bem. Passei pelo ensino médio e vi muitas pessoas confiantes – aparentemente, pelo menos – mas que se quer beiravam à autocontemplação de Narciso. Essas pessoas, quando observadas cuidadosamente, possuem muitas imperfeições e a falsa segurança que aparentam era reflexo da pressão que uma sociedade estética e capitalista impunha.
Avançando mais um pouco em minha vida, noto que a raça humana está divida em, pelo menos, três grupos: Inseguros, seguros e autocontempladores. A maioria das pessoas que conheço são inseguras. Uma parcela é segura e rejeitada pela maioria insegura. E aí vem os autocontempladores. Aqueles que estão na fila de espera para tomar o lugar de Deus e reformular a raça humana para que todos sejam à sua imagem e semelhança.
O adivinho cego Tirésias, quando procurado pela mãe de Narciso para saber o futuro do filho, assim disse: - Narciso terá vida longa contanto que não se conheça nunca!
Narciso, antes de se encantar com seu próprio reflexo, aproveitava a vida como todos os outros jovens de sua época. Assim ocorre com os autocontempladores. Eles só conseguem aproveitar a vida quando deixam de tentar tomar o lugar do Sol no centro de nossa galáxia. Quando percebem que assim como eles, existem muitos outros com as mesmas capacidades. Mas vejo os autocontempladores como seres muito delicados. Estão sempre procurando algo ou alguém que possa prejudicar a imagem que eles têm de si mesmos.
Temo que essas pessoas acabem como Narciso á beira do lago. “Ali permaneceu, paralisado de amor pela imagem aprisionada no espelho d'água. Não comia, não bebia para não se afastar por nem um segundo da imagem no lago, não dormia. Definhou. Morreu, afinal, de fome, de sede, de exaustão. Depois de morto, ainda assim não teve paz: nas profundezas do Hades, Narciso continua sua autocontemplação debruçado às margens do rio Estige. Na superfície da terra, nos bosques, as ninfas pretendem fazer as cerimônias fúnebres mas eis que o corpo desapareceu e no seu lugar brotou a flor amarela e branca que hoje conhecemos pelo nome daquele que amou somente a si mesmo.”
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