quarta-feira, 2 de maio de 2012

O que nos falta é pensar como comunidade


Há um mês estou envolvida em uma campanha que beneficia o hospital da cidade. Um hospital filantrópico, ou seja, que vive de doações. No entanto, até o início dessa campanha eram poucas as doações que o hospital recebia. Ao contrário da Universidade de Harvard, nos EUA, o hospital não recebe grandes doações de quem passou por aqui e sobreviveu e  muito menos de familiares daqueles que passaram seus últimos momentos de vida aqui. 


Confesso que já culpei hospitais e médicos pela morte de familiares e amigos, mas hoje, vivenciando o dia a dia de um hospital, vejo que muitas pessoas chegam aqui a espera de um milagre. Muitos chegam em condições tão graves que somente o mais evoluído tecnologicamente dos hospitais teria condições de salvá-lo. Mas ninguém entende. É normal. Não aceitamos. Afinal, o hospital é para doentes se curarem?! Não é bem assim. Quando meu avô faleceu, questionei... Por que o médico não chegou mais rápido? Passei por um período de revolta e hoje algumas alternativas surgem na minha cabeça. Talvez ele tenha demorado porque estava atendendo outro paciente com mais chances de vida, talvez ele tenha corrido o máximo que pode ou talvez já era hora do sofrimento de meu avô acabar.

Ninguém gosta de ficar doente ou internado. Isso é um fato. Eu também já fiquei internada, em quarto particular, com toda a atenção e carinho da enfermagem, mas eu queria ir embora. Eu queria minha casa, minha família. Eu também já fiquei internada pelo SUS, com mais duas pessoas no mesmo quarto. Situação horrível, três pessoas com diferentes doenças dividindo o mesmo quarto e banheiro. Mas eu acredito que se houver um trabalho conjunto entre poder público e entidades filantrópicas, isso pode mudar.

Na campanha que trabalho, por exemplo, arrecadamos fundos para diminuir o número de pessoas por quarto e para construirmos mais um banheiro nesses quartos. As camas serão separadas por biombos, o que dará uma certa privacidade. No entanto, ainda encontro algumas pessoas nos seus carros importados fechando os vidros para não doarem R$0,20 para um hospital. Nesse mesmo momento, no outro lado da rua, uma senhora vendedora de milhos entrega R$2,00 para auxiliar nas reformas. 

Situações como essas só me fazem ter certeza de que o que nos falta é pensar como comunidade. Não é porque eu não utilizo o SUS que eu não vou doar, até porque quartos particulares também serão reformados. Outro caso foi um comerciante dizendo que não doaria para os ladrões que estão na diretoria do hospital roubando dinheiro do povo, esse mesmo comerciante que vende produtos falsificados e esconde DVDs piratas se julga promotor da moral.

Me dói ver certas pessoas que pagam R$1 mil de IPVA serem incapazes de doar 10 centavos. Ninguém tem a obrigação de doar, claro. Só espero que o dinheiro que você tanto guarda, não se rasgue ao ser enterrado com você. 

Desculpem-me se as últimas palavras soaram um tanto vingativas, dinheiro é importante, dinheiro faz falta, mas ver pessoas sofrendo dói mais que entregar 20 centavos.

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